quarta-feira, 29 de abril de 2009

PROBLEMATICA ATUAL DO ARTESANATO

Feira na FIP, BRUSQUE/SC 2007

Artigo de Eduardo Barroso

Nos últimos anos começam a surgir intervenções cada vez mais freqüentes e sistemáticas na produção artesanal, promovidas por diversos organismos da esfera publica e privada, em quase todos os países da América Latina, cuja principal motivação e justificativa tem sido a necessidade de integrar à vida econômica destes países uma atividade que durante muito tempo foi marginalizada e tratada apenas dentro da ótica da assistência social.

A crescente taxa de desemprego, chegando em alguns casos a superar a marca dos 15%, como é o caso da Argentina, (no Brasil a taxa atual é de 7,5% representando 5 milhões de trabalhadores), transforma em prioridade nacional qualquer ação que possa representar aumento das oportunidades de ocupação de mão de obra e de geração de renda. Deste o modo a artesanato passa a ser, para muitos políticos, uma opção estratégica para reduzir a pressão social causada pelo desemprego.
Paralelamente, frente ao acirramento das disputas comerciais elevadas ao nível de mercado global, cresce a consciência da necessidade que os produtos dos países em desenvolvimento, em particular os países da América Latina, alcancem um melhor padrão competitivo e que isto não será alcançado apenas com a racionalização e otimização da produção, com a redução dos custos, e melhoria da qualidade, estratégias inviabilizadas pelo custo estrutural destes países. Será necessário um enorme trabalho de construção de uma imagem positiva do produto Latino de forma a agregar aos mesmos um valor simbólico que aumente seu valor de mercado.

Para competir com produtos asiáticos de qualidade aceitável e preços muito mais baixos, somente poderá ser conseguido quando se oferecer algo diferente, melhor concebido, que fale diretamente ao coração e à mente dos consumidores. Estes produtos oferecidos deverão incorporar algo mais, serem exclusivos, singulares, com uma história própria.

Deste modo descobre-se que o segredo da competitividade não esta na redução dos custos, mas na agregação de valor. E isto se consegue de diversas maneiras, porém a principal delas é através da utilização do design.

Porém, ao mesmo tempo, surge também o temor que esta nova atividade, tão estritamente relacionada com os imperativos de mercado, possa desvirtuar a essência do produto original, fabricado artesanalmente, deformando valores e tradições e deturpando a percepção de identidade cultural.

No entanto, os exemplos deixados por inúmeros países do resto do mundo mostra que um imagem forte, coerente, que inspira confiança na qualidade de seus produtos é fruto de muitos anos de trabalho e constância. A identidade de um país, ou região, é a soma de impressões sobre um conjunto de fatores e de elementos que conformam sua cultura e história. Esta identidade é um conjunto mutante de referências, em permanente movimento e evolução, e quanto maior esta dinâmica, maior será a capacidade de sobrevivência e de renovação de uma nação.
Para se criar uma novo produto ou relançar um já existente, seja este industrial ou artesanal, com características competitivas a nível internacional, é necessário uma ação sistêmica que envolva toda a sua cadeia de produção.

Porém, na concepção de novas linhas de produtos de maior valor simbólico e orientados ao mercado, é necessário resgatar, nas origens e raízes culturais, os elementos que possam assumir a condição de novos arquétipos orientadores de uma estética própria. No caso Latino esta tarefa assume enormes proporções em virtude da extraordinária diversidade cultural existente na nível regional, obrigando a identificar de modo apropriado cada produto à sua região de origem, para evitar a simplificação reducionista baseada em esteriótipos sem valor, resultantes em sua maioria, de uma visão preconceituosa.

Nesta busca, a arte popular surge como uma fonte limpa , autêntica e plena de vitalidade, oferecendo um repertório material e iconográfico, fruto de um passado de mesclagem cultural resultante das sucessivas ondas de colonização, capaz de colaborar na construção deste novo projeto de identidade Latina.
Diante destas novas condicionantes competitivas, multiplicam-se as ações de promoção do design e do artesanato, empreendidas por um extenso elenco de instituições e até mesmo com a criação de Programas Governamentais com o envolvimento de Ministérios e organismos internacionais. Para dar conta de toda esta nova demanda são mobilizados em toda os países da região dezenas de instituições e centenas de técnicos, das mais diversas especialidades, que trazem experiências, visões, enfoques e posturas bastante diferenciadas, algumas vezes complementares, outras vezes divergentes.

Deste modo, uma simples terminologia passa a ter significados e conotações diferentes dependendo do grupo que a utiliza. Artesanato passa a ser confundido com arte-popular, artesão com artista, designer com desenhista, apenas para citar os casos mais pitorescos.

Do mesmo modo, antes de empreender novas ações parece sensato nivelar conceitos, conhecer melhorar as experiências que deram certo e analisar criticamente a trajetória das ações e programas governamentais implementados ao longo das últimas décadas, pois estes, em sua maioria, não conseguiram ainda reverter a situação de exclusão e marginalidade social e econômica em que se encontra submetido o artesão.

Em alguns casos estes programas possuem o mérito de preservarem o artesanato em sua pureza original, porém preservam também a miséria do artesão e a falta de perspectivas.

Parte deste fracasso prende-se ao fato que a maioria dos empreendimentos foram, e continuam sendo, constituídos a partir do modelo da oferta, modelo este abandonado pelos europeus, japoneses e americanos na década de cinquenta, mas ainda a constante no segmento do artesanato, que se caracteriza pela montagem prévia do negócio para então se buscar o mercado, em detrimento do que preconiza o marketing que considera as necessidades e desejos do consumidor como o grande marco balizador em termos de indicações para se montar qualquer tipo de atividade.

Diante deste cenário, propor uma reflexão sobre as práticas, experiências, e estratégias mais adequadas para o desenvolvimento integral e sustentado do segmento produtivo artesanal e das contribuições do design dentro deste processo, transforma-se em um desafio de grandes proporções que somente poderá ser afrontado se eliminarmos a pretensão de esgotar o tema. Nosso intuito é apenas contribuir com algumas idéias, e a partir de experiências diferenciadas, abrir uma ampla discussão que possa, por sua vez, apontar alternativas viáveis e exeqüíveis para futuras intervenções no âmbito do artesanato.


Matéria extraída de: http://www.eduardobarroso.com.br/

Um comentário:

M. Céu Fernandes disse...

Olá.
Obrigada por estar a seguir o "Coisas Giras".
Uma excelente semana e um beijinho.
M. Céu