PÃO FRANCÊS
Jackie Régis
Mas
ela sabia como ninguém
conquistar a simpatia das pessoas mesmo!!!
Não importava a classe social, a etnia, a
profissão, a idade ou o sexo... ela conquistava
a todos pelo estomago!
Dona
Margarida, ou melhor, Dona Maga, era realmente uma “maga” na cozinha. Bom, ela gostava mesmo era dos elogios que
recebia, pois sabia que eram sinceros... Sabia que tinha alcançado o objetivo de agradar ao paladar
dos seus convidados.
A
alquimia dos temperos, muito bem escolhidos e milimetricamente cortados
exalavam um aroma que sempre fazia surgir visitas inesperadas à porta.
Cebola
de cabeça, alho, pimentão vermelho bem picadinhos e despejados
cuidadosamente na frigideira de ferro, previamente aquecida com uma colher de
banha de porco... Pronto!!! Era o suficiente para fazer salivar o mais
desavisado transeunte daquela rua de paralelepípedos,
aos pés do Morro da Cruz.
A
casa de madeira verde era a última
da rua, tendo toda a sua lateral margeada pela velha e abandonada estrada de
ferro. Por ali passavam muitas pessoas, principalmente jovens... era caminho de
escolas.
Quanta
provocação ao meio dia ...
Naquele
dia receberíamos visitas, com
certeza.
Bife
de frigideira era servido só em
dias especiais... e nem era domingo! Tampouco aniversário de alguém da casa...
Aquela
frigideira era mágica.
Conseguia dar ao filé
simples aparência e sabor de
prato requintado! O sal na medida certa, um leve toque de limão, uma pitada de cominho e pimenta do
reino como coadjuvantes transformavam o sumo que escorria da carne enquanto
fritava na banha quente em uma deliciosa crosta que sedimentava no fundo da
frigideira, enquanto o filé
dourava, ao ponto!
As
palmas no portão anunciavam a
chegada da visita. Um padre e um seminarista recém
chegados de uma longa viagem estavam sendo recepcionados na tradicional família dos “católicos praticantes”.
Dona
Maga foi logo recomendando a todos nós:
cumprimentem com respeito, respondam com educação e
tenham bons modos à
mesa. E ainda complementou sussurrando: eles acabaram de chegar da Europa!
Toda
orgulhosa do lauto banquete que preparou e ansiosa por ouvir os relatos da
viagem, foi recebe-los no portão e
trouxe-os até a copa, que era o último cômodo
da casa, nos fundos do terreno. Apresentou-os distintamente aos que estavam
presentes, acomodou-os em seus lugares e serviu o almoço.
Tudo
transcorria maravilhosamente bem, até
que ela percebeu que eu não
estava à mesa.
O
espaço onde estavam lado a lado a copa e a
cozinha era amplo... do lado oposto à
mesa de jantar ficavam o armário
de comidas, o “tajer” onde guardávamos
as louças, a pia e o fogão. Sobre o fogão ainda estava a frigideira mágica, instigando meus instintos
adolescentes de satisfação e
prazer. É que, para mim, a parte mais saborosa
do prato principal ficava guardada no fundo da frigideira de ferro: a crosta úmida e salgadinha que se formava com a
fusão do sumo da carne aos temperos. Eu salivava
só por imaginar que seria toda minha...
Saí da mesa discretamente e me dirigi para
o cômodo ao lado. Aproximei-me do armário de comidas e furtei um pão dormido, que estava no saco de pães. Despojadamente parti o pão e passei um pedaçõ no
fundo da frigideira para saborear aquele deleite. Estava bom demais!!! Me
empolguei e nem percebi que estava sendo fuzilada pelo olhar autoritário da Dona Margarida.
E
logo veio o “pito”:
-
Que modos são esses? Mas o que é isso, menina?
E
eu, com a boca lambuzada do sumo da carne respondi:
- É pão...
e é Francês!!! Quer?
Ainda
bem que as visitas tinham bom humor e relevaram minha meninice com boas
gargalhadas!!!
Um comentário:
💕Ler suas memórias me fez voltar no tempo... Lindos momentos... Saudosos... 💕
Postar um comentário